MESTRE PAULO DOS ANJOS CAPOEIRA ANGOLA .
Mestre Paulo dos Anjos
destacou-se, em vida, como um dos mais versáteis e exímios angoleiros deste século e um dos que mais resistiram às tentativas correntes de enxertar a Capoeira tradicional com os modismos e inovações da capoeira moderna. “Para mim, nada mudou. Eu continuo fazendo a Capoeira Angola conforme a tradição”, ele costumava dizer.
Nascido em 15 de agosto de 1936, na cidade sergipana de Estância, o jovem de catorze anos José Paulo dos Santos já despontava, em Salvador (1950) como um promissor lutador de boxe. Desde que conheceu o mestre Canjiquinha, um ano antes, afeiçoou-se à Capoeira e passou a freqüentar as rodas de rua da capital baiana e das cidades do Recôncavo. Nas festas de largo, sua técnica e sua habilidade começaram a chamar a atenção de todos e, daí em diante, o tempo se incumbiu de transformá-lo no mestre Paulo dos Anjos, consagrado pelas mãos do próprio mestre Canjiquinha.
Além do respeito que sua personalidade impunha naturalmente aos seus contemporâneos, ele se tornou muito conhecido, também, como cantador de Capoeira e teve várias músicas gravadas em CD, com seu estilo peculiar, mantendo a tradição da Capoeira também nas músicas. Ao lado do mestre Gato Preto, deu aulas na Ilha de Itaparica e também em outras localidades da região metropolitana de Salvador.
Na década de 70, transferiu-se para São Paulo, onde permaneceu por cinco anos. Em São José dos Campos, formou o grupo Anjos de Angola. Em 1978, venceu o campeonato de Capoeira, promovido no Ginásio do Pacaembu, na capital paulista. Retornou a Salvador, em 1980, e influiu no movimento de conscientização dos capoeiras na luta por melhores condições de trabalho. Integrou, a partir de 1987, a Associação Brasileira de Capoeira Angola (ABCA) e acumulou seu trabalho na Capoeira com as atividades de funcionário público, na prefeitura de Salvador. Muitos de seus alunos são hoje, professores e mestres. Alguns já possuem academias próprias em Salvador e em São Paulo: Virgílio do Retiro, Jaime de Mar Grande, Jorge Satélite, Pássaro Preto, Amâncio, Neguinho, Renê, Alfredo, Djalma, Galego, Mala, Josias, Cabeção, Jequié, Feijão, Vital e Al Capone, entre outros.
ENTREVISTA: Mestre Paulo dos Anjos
“Eu sempre fui
um angoleiro”
Uma das mais interessantes entrevistas do mestre Paulo dos Anjos foi concedida, em 1995, ao periódico “Capoeirando”, da Universidade Estadual Paulista (Unicamp), de Campinas. Como homenagem póstuma ao estimado mestre, a RC reproduz, abaixo, uma síntese dessa entrevista:
Capoeirando: Como ocorreu sua intimidade com a Capoeira?
Mestre Paulo dos Anjos: Aprendi com o mestre Canjiquinha e participava das rodas na academia do mestre Pastinha. Convivi com o mestre Gato Preto, ensinei com ele na Bahia e também ensinei muito tempo na academia dele, em São Paulo.
Cap.: Por que trocou a Bahia por São Paulo, na década de 70?
Paulo dos Anjos: A situação estava ruim para mim, numa época de maré sem peixe e um aluno — que treinava boxe comigo e sabia que eu jogava Capoeira — me convidou para ir para São Paulo, e eu fui.
Cap.: Continua ainda com suas aulas de Capoeira, em Salvador?
Paulo dos Anjos: Eu tenho a Associação de Capoeira Angola, mas são os alunos que dão as aulas. Eu dou aula no Salão Paroquial da Paz e alguns cursos fora da Bahia.
Cap.: Pela sua vivência, acha que a Capoeira está mudando?
Paulo dos Anjos: Para mim, nada mudou. Eu continuo fazendo a Capoeira Angola conforme a tradição. Eu sempre fui um angoleiro. Nem discuto a Regional porque não conheço, nem entendo. Se eu não entendo, não tenho que dar uma de entendedor!
Cap.: E como é essa questão da tradição?
Paulo dos Anjos: Tem que ter um cara mais velho do que eu para explicar.
Cap.: A tradição incluía o uso da navalha?
Paulo dos Anjos: Sempre teve gaiato, desordeiro com navalha. Safado, nunca deixou de ter (na Capoeira), mas uma coisa existia e parece que não existe mais: o respeito. Agora, tem moleque de vinte anos que, só porque dá um bocado de pulos, desafia o mestre e chama para brigar!
Cap.: Por que não se joga mais com navalha?
Paulo dos Anjos: Porque nunca se jogou Capoeira com navalha. Botar (navalha) no pé para jogar? Isso é mentira. É só exibição! É só show!
Cap.: Mesmo na antiga capoeira de rua não tinha navalha?
Paulo dos Anjos: Tinha, mas era no bolso do capoeirista. Para botar no pé e sair cortando, é mentira. Tem gente boa por aí que, se você pegar uma faca na mão e não for macho mesmo, ele toma a faca e ainda bate em você. Imagine pôr navalha no pé para sair cortando todo mundo! Isso é fantasia para enganar criança boba!
fonte: Revista capoeira
Nascido em 15 de agosto de 1936, na cidade sergipana de Estância, o jovem de catorze anos José Paulo dos Santos já despontava, em Salvador (1950) como um promissor lutador de boxe. Desde que conheceu o mestre Canjiquinha, um ano antes, afeiçoou-se à Capoeira e passou a freqüentar as rodas de rua da capital baiana e das cidades do Recôncavo. Nas festas de largo, sua técnica e sua habilidade começaram a chamar a atenção de todos e, daí em diante, o tempo se incumbiu de transformá-lo no mestre Paulo dos Anjos, consagrado pelas mãos do próprio mestre Canjiquinha.
Além do respeito que sua personalidade impunha naturalmente aos seus contemporâneos, ele se tornou muito conhecido, também, como cantador de Capoeira e teve várias músicas gravadas em CD, com seu estilo peculiar, mantendo a tradição da Capoeira também nas músicas. Ao lado do mestre Gato Preto, deu aulas na Ilha de Itaparica e também em outras localidades da região metropolitana de Salvador.
Na década de 70, transferiu-se para São Paulo, onde permaneceu por cinco anos. Em São José dos Campos, formou o grupo Anjos de Angola. Em 1978, venceu o campeonato de Capoeira, promovido no Ginásio do Pacaembu, na capital paulista. Retornou a Salvador, em 1980, e influiu no movimento de conscientização dos capoeiras na luta por melhores condições de trabalho. Integrou, a partir de 1987, a Associação Brasileira de Capoeira Angola (ABCA) e acumulou seu trabalho na Capoeira com as atividades de funcionário público, na prefeitura de Salvador. Muitos de seus alunos são hoje, professores e mestres. Alguns já possuem academias próprias em Salvador e em São Paulo: Virgílio do Retiro, Jaime de Mar Grande, Jorge Satélite, Pássaro Preto, Amâncio, Neguinho, Renê, Alfredo, Djalma, Galego, Mala, Josias, Cabeção, Jequié, Feijão, Vital e Al Capone, entre outros.
ENTREVISTA: Mestre Paulo dos Anjos
“Eu sempre fui
um angoleiro”
Uma das mais interessantes entrevistas do mestre Paulo dos Anjos foi concedida, em 1995, ao periódico “Capoeirando”, da Universidade Estadual Paulista (Unicamp), de Campinas. Como homenagem póstuma ao estimado mestre, a RC reproduz, abaixo, uma síntese dessa entrevista:
Capoeirando: Como ocorreu sua intimidade com a Capoeira?
Mestre Paulo dos Anjos: Aprendi com o mestre Canjiquinha e participava das rodas na academia do mestre Pastinha. Convivi com o mestre Gato Preto, ensinei com ele na Bahia e também ensinei muito tempo na academia dele, em São Paulo.
Cap.: Por que trocou a Bahia por São Paulo, na década de 70?
Paulo dos Anjos: A situação estava ruim para mim, numa época de maré sem peixe e um aluno — que treinava boxe comigo e sabia que eu jogava Capoeira — me convidou para ir para São Paulo, e eu fui.
Cap.: Continua ainda com suas aulas de Capoeira, em Salvador?
Paulo dos Anjos: Eu tenho a Associação de Capoeira Angola, mas são os alunos que dão as aulas. Eu dou aula no Salão Paroquial da Paz e alguns cursos fora da Bahia.
Cap.: Pela sua vivência, acha que a Capoeira está mudando?
Paulo dos Anjos: Para mim, nada mudou. Eu continuo fazendo a Capoeira Angola conforme a tradição. Eu sempre fui um angoleiro. Nem discuto a Regional porque não conheço, nem entendo. Se eu não entendo, não tenho que dar uma de entendedor!
Cap.: E como é essa questão da tradição?
Paulo dos Anjos: Tem que ter um cara mais velho do que eu para explicar.
Cap.: A tradição incluía o uso da navalha?
Paulo dos Anjos: Sempre teve gaiato, desordeiro com navalha. Safado, nunca deixou de ter (na Capoeira), mas uma coisa existia e parece que não existe mais: o respeito. Agora, tem moleque de vinte anos que, só porque dá um bocado de pulos, desafia o mestre e chama para brigar!
Cap.: Por que não se joga mais com navalha?
Paulo dos Anjos: Porque nunca se jogou Capoeira com navalha. Botar (navalha) no pé para jogar? Isso é mentira. É só exibição! É só show!
Cap.: Mesmo na antiga capoeira de rua não tinha navalha?
Paulo dos Anjos: Tinha, mas era no bolso do capoeirista. Para botar no pé e sair cortando, é mentira. Tem gente boa por aí que, se você pegar uma faca na mão e não for macho mesmo, ele toma a faca e ainda bate em você. Imagine pôr navalha no pé para sair cortando todo mundo! Isso é fantasia para enganar criança boba!
fonte: Revista capoeira
www.sositaguare.blogspot.com
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