EROSÃO NO RIO TAQUARAI . PREOCUPA AMBIENTALISTAS .
O Rio Taquari, um dos mais importantes da Bacia do Pantanal, no Mato Grosso do Sul, está ameaçado pela erosão e o assoreamento. O Taquari é um dos principais leitos de drenagem das águas da Bacia Pantaneira para o Rio Paraguai. Ainda conserva, em alguns pontos, a aparência de santuário ecológico. Mas, na maior parte do seu leito, o Rio Taquari exibe outra realidade: a do descaso e da devastação.
O Taquari nasce no Mato Grosso, mas a maior parte do seu leito atravessa o Mato Grosso do Sul, até desaguar no Rio Paraguai. Sua bacia hidrográfica abrange 8 milhões de hectares, com 16 municípios. O rio, que nasce de um pequeno veio d’água, no meio do cerrado, ganha corpo ao longo de 800 quilômetros de extensão e se torna responsável por 1/6 de todo o volume da água de todo o Pantanal brasileiro.
Do alto dá para ver a terra trabalhada para a lavoura de soja. A ocupação agropecuária intensiva começou no final dos anos 70. Pecuaristas e agricultores trouxeram as técnicas de produção e manejo usadas no Sul e no Sudeste naquela época. O frágil ecossistema da região não suportou e o impacto foi gigantesco. Mais da metade da área onde foi retirada a vegetação nativa, na Bacia do Alto Taquari, virou pasto. Na época das chuvas, as enxurradas acabam levando para o leito do rio toneladas de sedimentos. O córrego Tigela deságua em um dos rios que formam a Bacia do Taquari. No local, dá pra passar de carro ou caminhar onde antes havia um leito com até 2 metros de profundidade.
É uma situação que se repete em muitos córregos e rios da região. O pesquisador Felipe Dias, da Universidade Dom Bosco, explica porque tanta areia: “Degradação em virtude da ocupação, desmatamento, falta de conservação do solo, retirada de vegetação ciliar... tudo isso faz com que no período de chuvas, a areia que está na encosta desça e entre dentro dos canais dos córregos e dos rios”.
Com a redução da mata nativa, o solo ficou mais sujeito a erosão. Onde antes só tinha verde, hoje existem imensos buracos, as vossorocas. A maior vossoroca do município de Alcinópolis tem dois quilômetros de extensão, com mais de 50 metros de profundidade. Toda a terra foi parar nos córregos e rios da região.
Descendo um pouco mais na Bacia, chegamos ao baixo Taquari. Com o leito entupido, o rio procurou outros caminhos. A água se espalhou, invadiu fazendas, alagou casas. É um território permanentemente alagado, como explica a bióloga da Embrapa, Emiko de Resende. “No rio Taquari, na planície, quase não tem declividade. Então a areia que entra para no leito do rio, não segue adiante e isso vai entupindo cada vez mais, até que ele arromba suas margens, passa a correr mais alto que os campos laterais e quando ocorre esse arrombamento, o rio não consegue mais voltar ao seu canal porque não existe mais canal.”
Hoje são mais de 300 fazendas na região que estão com os pastos permanentemente alagados. A cheia no Taquari veio e não foi embora. Não secou mais a região e isso está inviabilizando a pecuária. O índice de prenhez é muito baixo e o gado fica magro porque não tem o que comer. Na fazenda que já teve mais de 10 mil cabeças de gado, hoje só tem 4 mil e o proprietário decidiu arrendar outra área e transferir todo o rebanho.
O desastre ambiental desanima os pantaneiros. “A gente fica triste porque até para transporte de carga é um sacrifício”, disse Ivanildo Delgado, peão. Wanderley da Costa é outro que parece não acreditar no que vê. “O transporte nosso é só carro de boi. Colocar sal no cocho... porque só tem água, a gente fica ilhada”, disse o peão. Nos currais, animais fracos e magros. “Não tem muito pasto para colocas as vacas, porque o único pasto que tem é em frente à casa”, completou Wanderley.
Mas algumas iniciativas começam a mudar essa história. Em São Gabriel D’Oeste, uma parceria começa a ser implantada. A prefeitura tem hoje um viveiro de árvores nativas com mais de 60 espécies. “Hoje nós estamos com 150 mil mudas, mas tempos capacidade para 580, e conforme a demanda, até um milhão de mudas por ano”, garantiu Luís Carlos Teixeira, técnico agrícola da Secretaria do Meio Ambiente.
O objetivo do projeto é plantar as mudas nativas em áreas estratégicas e conter a erosão, evitando que mais areia vá para o leito do Taquari. Em Alcinópolis, a 250 quilômetros de São Gabriel D’Oeste, outras parceira – dessa vez entre fazendeiros e a prefeitura – está ajudando a recuperar o Taquari. Muitas fazendas adotaram o plantio em curva de nível, uma técnica de manejo que ajuda a conter a erosão.
Para evitar que o gado chegue aos córregos, a mata ciliar foi isolada. As estradas também passaram por uma reforma com a contenção de várias bacias de contenção. Agora, a água não corre mais ladeira abaixo, provocando erosão. Ela vai aos poucos se espraindo pelas bacias de contenção que ficam nas laterais.
“Aqui era um trecho inadequado: uma estrada encaixada com barrancos até de 2 metros. A água corria, danificava a estrada e levava sedimentos para o córrego. Nivelamos o terreno, e fizemos as curvas de nível onde a água não vai mais para o córrego”, explicou Edílson Gomes, técnico agrícola. O trabalho de contenção no município não é só na planície. Até nos morros foram feitos isolamentos de área. Terraços com bambuzais ajudam a segurar a terra e a água. “A vegetação veio normalmente e o gado não faz mais pastoreio aqui e a área vem recuperando”, garantiu Edílson.
Os produtores rurais também mudaram de atitude para salvar o rio. Adroaldo Guzella planta soja, algodão e milho em 2700 hectares. “Há 25 anos, quando a gente entrou aqui, a gente não tinha muito conhecimento em plantio direto. Hoje, a gente faz o plantio direto, o que contribui muito para não haver esse assoreamento no Rio Taquari”, disse o agricultor.
Com o plantio direto, o solo não é totalmente revolvido. Ele fica sempre coberto, ou com a palha, ou com restos da colheita. O plantio é feito na palhada, impedindo a erosão provocada pela chuva e pelo vento. Outra mudança veio com os pecuaristas. José Vieira cuida de uma fazenda com mais de 2 mil cabeças de gado. Já dá pra ver alguns resultados no trabalho de preservação. “A área, que era de 30 hectares, não tinha curva de nível e toda água de cima descia e soreava o córrego. Estava chegando a um ponto que a água parava”.
A área de pastagem foi reduzida em 40%. José dividiu a fazenda em 60 piquetes onde faz a rotação de pastos e ainda mantém parte do rebanho confinado, pra melhorar o rendimento da comunidade. Hoje, o gado não tem mais acesso ao córrego. “Isso foi só investimento pra fazenda”.
O trabalho de recuperação da Bacia do Taquari está apenas começando. O problema é grande e ainda tem muito a ser feito.
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