VI A MORTE COM PROXIMIDADE AFLITIVA , EM MEMÓRIA A UM GRANDE ATOR CHICO ANYSIO DESCANSE NA PAZ E AMOR DE JESUS .
“Vi a morte com proximidade aflitiva. Se esticasse a mão, acariciava os seus contornos. Cheguei a perceber as suas cores: azul com lilás”.
O pensamento, repleto de lucidez, é do comediante Chico Anysio. Ainda sem crer na reviravolta após passar 110 dias em coma induzido num Centro de Tratamento Intensivo (CTI), o artista revelou a fragilidade de quem teve a vida por um fio. Assim como o artista, que já deparou com a tênue fronteira que separa a vida da morte concorda que ela é envolta em mistério. Imperam o silêncio e muitas dúvidas: será que a pessoa ouve? Quando ela vai despertar? Demorará minutos, horas, dias, semanas, meses ou anos? Quando o que está em jogo é o órgão mais complexo do corpo humano, o cérebro, há sempre mais perguntas do respostas concretas.
A ciência entende o coma, do grega koma (sono profundo), como a perda do estado de consciência, que depende da transmissão de sinais químicos do tronco cerebral e tálamo para o cérebro. Pode ser comparado a um sono, que, quanto mais profundo, mais difícil será de acordar. Segundo o neurologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor de medicina interna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Marino Muxfeldt Bianchin, a diferença é que o sono é um estado fisiológico e o coma, patológico. No coma, a pessoa não pode ser despertada como quando está dormindo:
— No estado de coma, o indivíduo ingressa num estado de inconsciência que é ocasionado por uma disfunção ou lesão cerebral. Sendo assim, inconsciência pode ser definida como a incapacidade do paciente de ter percepção de si mesmo e do ambiente, associada a uma incapacidade de responder a estímulos externos e necessidades próprias — explica.
O que define o prognóstico do coma é a causa dele, segundo Bianchin. No coma induzido, quando o doente recebe medicamentos para esse fim, a opção serve como uma medida importante em casos de cirurgias ou em pacientes internados em Centro de Terapias Intensivas (CTIs), por exemplo. Enquanto esse último pode ser reversível a qualquer momento, o coma pode ocorrer por meio de intoxicações exógenas (remédios em excesso ou álcool, por exemplo), traumatismo crânio-encefálico, tumores, derrames, entre outros fatores. Nesse último caso, dependendo do grau de lesão cerebral que o paciente sofreu, é mais difícil saber quando — e se — a pessoa vai despertar, explica o médico. No entanto, é possível oferecer um tratamento intensivo de suporte à vida, instituir a terapêutica necessária para tratar a causa do coma, evitando futuros danos físicos e neurológicos.
Os diferentes níveis de consciência
O nível de consciência dos pacientes em coma pode ser avaliado por escalas objetivas tais como a Escala de Glasgow (ECG). Desenvolvida para avaliar o grau de consciência após traumatismos crânio-encefálicos, ela considera respostas a partir de abertura ocular, fala e capacidade motora. Os três valores separadamente, assim como sua soma, são considerados.
— Quanto mais tempo um paciente permanece em coma, mais greve foi o evento que o levou este estado, e mais difícil será sua recuperação. Ele poderá evoluir para estados associados com sequelas graves, tais como o estado vegetativo persistente, no qual o paciente pode ficar acordado, mas apresenta muito pouca interação com o ambiente ao seu redor ou percepção de suas necessidades básicas e sentimentos internos. O prognóstico depende do grau da lesão cerebral associada — complementa.
Lesões cerebrais muito graves podem levar à morte cerebral, que é o conceito que se tem de morte. Mas nem sempre foi assim: até meados do século 20,a morte podia ser definida no momento da parada cardíaca. Com o advento dos transplantes e técnicas de suporte avançado, a morte passou a ser considerada apenas quando há perda total e irreversível de todas as funções do encéfalo (cérebro e tronco cerebral), mesmo se mantidos os batimentos cardíacos, a circulação e a respiração.
Embora as funções do coração sejam essenciais para manter uma pessoa viva, elas podem ser substituídas por meios artificiais ou mesmo transplantes. Já o cérebro não: no momento em que o encéfalo perde sua função, a pessoa é considerada morta do ponto de vista clínico.
Fique por dentro
:: O que é coma?
O paciente que está em coma vive um estado parecido a um sono profundo, porém, ele não pode ser acordado e não demonstra nenhum conhecimento de si próprio nem do ambiente ao seu redor. Os especialistas definem o coma como um estado caracterizado pela ausência ou extrema diminuição da consciência (nível de alerta comportamental), e pela falta de resposta aos estímulos internos e externos.
:: O que pode provocar o coma?
Muitas doenças, lesões ou anomalias graves podem afetar o bom funcionamento do cérebro e provocar o coma. Entre elas estão o traumatismo craniano,
tumores, derrame, reações tóxicas aos medicamentos ou a ingestão voluntária de sedativos e outras substâncias tóxicas.
:: O que é sentido neste período?
A maioria dos neurologistas afirma que os pacientes em coma não sentem nada e não demonstram percepção nenhuma. Mas é uma opinão que varia: apesar de não ter sido comprovado cientificamente, muitos médicos acham que os pacientes que vivem esse estado podem, sim, ouvir e perceber minimamente o mundo ao seu redor.
Na dúvida, por necessidade e convite dos próprios médicos, familiares costumam falar com eles, mesmo sem obter resposta. A ideia é que faz bem para ambos. Segundo a psicanalista Simone Mädke Brenner, o ato de cuidar de um sujeito que supostamente está “desligado” de seus pensamentos e consciência é necessário para que não esqueçamos que antes de nos sentirmos vivos, no início de nossa vida, precisamos estar vivos no desejo de um outro.
— Talvez aí esteja o maior perigo para alguém que está em coma: que antes dele morrer de fato já tenha morrido nas palavras do outro, de quem ele depende para poder viver. Por isso é tão importante que haja alguém para cuidar, decifrar e interpretar suas sensações e descobertas corporais — explica Simone.
:: Há tipos diferentes de coma?
Não há uma classificação de tipos de coma, porque é uma situação que comporta apenas duas possibilidades: estar em coma ou não estar. O que existe são outras alterações de estado de consciência.
www.sositaguare.blogspot.com
O pensamento, repleto de lucidez, é do comediante Chico Anysio. Ainda sem crer na reviravolta após passar 110 dias em coma induzido num Centro de Tratamento Intensivo (CTI), o artista revelou a fragilidade de quem teve a vida por um fio. Assim como o artista, que já deparou com a tênue fronteira que separa a vida da morte concorda que ela é envolta em mistério. Imperam o silêncio e muitas dúvidas: será que a pessoa ouve? Quando ela vai despertar? Demorará minutos, horas, dias, semanas, meses ou anos? Quando o que está em jogo é o órgão mais complexo do corpo humano, o cérebro, há sempre mais perguntas do respostas concretas.
A ciência entende o coma, do grega koma (sono profundo), como a perda do estado de consciência, que depende da transmissão de sinais químicos do tronco cerebral e tálamo para o cérebro. Pode ser comparado a um sono, que, quanto mais profundo, mais difícil será de acordar. Segundo o neurologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor de medicina interna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Marino Muxfeldt Bianchin, a diferença é que o sono é um estado fisiológico e o coma, patológico. No coma, a pessoa não pode ser despertada como quando está dormindo:
— No estado de coma, o indivíduo ingressa num estado de inconsciência que é ocasionado por uma disfunção ou lesão cerebral. Sendo assim, inconsciência pode ser definida como a incapacidade do paciente de ter percepção de si mesmo e do ambiente, associada a uma incapacidade de responder a estímulos externos e necessidades próprias — explica.
O que define o prognóstico do coma é a causa dele, segundo Bianchin. No coma induzido, quando o doente recebe medicamentos para esse fim, a opção serve como uma medida importante em casos de cirurgias ou em pacientes internados em Centro de Terapias Intensivas (CTIs), por exemplo. Enquanto esse último pode ser reversível a qualquer momento, o coma pode ocorrer por meio de intoxicações exógenas (remédios em excesso ou álcool, por exemplo), traumatismo crânio-encefálico, tumores, derrames, entre outros fatores. Nesse último caso, dependendo do grau de lesão cerebral que o paciente sofreu, é mais difícil saber quando — e se — a pessoa vai despertar, explica o médico. No entanto, é possível oferecer um tratamento intensivo de suporte à vida, instituir a terapêutica necessária para tratar a causa do coma, evitando futuros danos físicos e neurológicos.
Os diferentes níveis de consciência
O nível de consciência dos pacientes em coma pode ser avaliado por escalas objetivas tais como a Escala de Glasgow (ECG). Desenvolvida para avaliar o grau de consciência após traumatismos crânio-encefálicos, ela considera respostas a partir de abertura ocular, fala e capacidade motora. Os três valores separadamente, assim como sua soma, são considerados.
— Quanto mais tempo um paciente permanece em coma, mais greve foi o evento que o levou este estado, e mais difícil será sua recuperação. Ele poderá evoluir para estados associados com sequelas graves, tais como o estado vegetativo persistente, no qual o paciente pode ficar acordado, mas apresenta muito pouca interação com o ambiente ao seu redor ou percepção de suas necessidades básicas e sentimentos internos. O prognóstico depende do grau da lesão cerebral associada — complementa.
Lesões cerebrais muito graves podem levar à morte cerebral, que é o conceito que se tem de morte. Mas nem sempre foi assim: até meados do século 20,a morte podia ser definida no momento da parada cardíaca. Com o advento dos transplantes e técnicas de suporte avançado, a morte passou a ser considerada apenas quando há perda total e irreversível de todas as funções do encéfalo (cérebro e tronco cerebral), mesmo se mantidos os batimentos cardíacos, a circulação e a respiração.
Embora as funções do coração sejam essenciais para manter uma pessoa viva, elas podem ser substituídas por meios artificiais ou mesmo transplantes. Já o cérebro não: no momento em que o encéfalo perde sua função, a pessoa é considerada morta do ponto de vista clínico.
Fique por dentro
:: O que é coma?
O paciente que está em coma vive um estado parecido a um sono profundo, porém, ele não pode ser acordado e não demonstra nenhum conhecimento de si próprio nem do ambiente ao seu redor. Os especialistas definem o coma como um estado caracterizado pela ausência ou extrema diminuição da consciência (nível de alerta comportamental), e pela falta de resposta aos estímulos internos e externos.
:: O que pode provocar o coma?
Muitas doenças, lesões ou anomalias graves podem afetar o bom funcionamento do cérebro e provocar o coma. Entre elas estão o traumatismo craniano,
tumores, derrame, reações tóxicas aos medicamentos ou a ingestão voluntária de sedativos e outras substâncias tóxicas.
:: O que é sentido neste período?
A maioria dos neurologistas afirma que os pacientes em coma não sentem nada e não demonstram percepção nenhuma. Mas é uma opinão que varia: apesar de não ter sido comprovado cientificamente, muitos médicos acham que os pacientes que vivem esse estado podem, sim, ouvir e perceber minimamente o mundo ao seu redor.
Na dúvida, por necessidade e convite dos próprios médicos, familiares costumam falar com eles, mesmo sem obter resposta. A ideia é que faz bem para ambos. Segundo a psicanalista Simone Mädke Brenner, o ato de cuidar de um sujeito que supostamente está “desligado” de seus pensamentos e consciência é necessário para que não esqueçamos que antes de nos sentirmos vivos, no início de nossa vida, precisamos estar vivos no desejo de um outro.
— Talvez aí esteja o maior perigo para alguém que está em coma: que antes dele morrer de fato já tenha morrido nas palavras do outro, de quem ele depende para poder viver. Por isso é tão importante que haja alguém para cuidar, decifrar e interpretar suas sensações e descobertas corporais — explica Simone.
:: Há tipos diferentes de coma?
Não há uma classificação de tipos de coma, porque é uma situação que comporta apenas duas possibilidades: estar em coma ou não estar. O que existe são outras alterações de estado de consciência.
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