LEIA MAGALHÃES DE MARIA DE 68 ANOS MORREU DIA 18.01.2016 APÓS INALAR A FUMAÇA GERADA PELO VAZAMENTO TÓXICO EM GUARUJÁ NO TERMINAL DE CONTAINER'S LOCAL FRIO .

Velório aconteceu nesta sexta-feira, em Vicente de Carvalho (Foto: Solange Freitas/G1)Velório aconteceu nesta sexta-feira, em Vicente de Carvalho (Foto: Solange Freitas/G1)
Amigos e parentes se despediram de Leia Magalhães de Maria, de 68 anos, que morreu nesta segunda-feira (18) após inalar a fumaça gerada pelo vazamento tóxico em Guarujá, no litoral de São Paulo, na última semana.
Leia era moradora do bairro Sítio Paecara, no distrito de Vicente de Carvalho. Na quinta-feira (14), após inalar a fumaça tóxica por conta do incêndio, ela apresentou náuseas, vômito e asfixia.
Um dos filhos da idosa a levou para Jundiaí, no interior de São Paulo, cidade onde ele reside. Com os mesmos sintomas, a aposentada foi encaminhada para o Hospital das Pitangueiras, onde recebeu cuidados médicos e foi liberada.
Mulher será enterrada no Cemitério Municipal de Vicente de Carvalho (Foto: Arquivo Pessoal)Mulher foi enterrada em Guarujá
(Foto: Arquivo Pessoal)
"Minha mae morava próximo e a fumaça chegou em outras cidades. Estamos  fazendo o sepultamento hoje porque ela foi para Jundiaí. Se ela tivesse ficado aqui, não tinha aguentado tanto tempo", disse.Um dos filhos da vítima, o engenheiro Wilson Magalhães de Maria, que mora na cidade do interior de São Paulo, disse que decidiu tirar a mãe do litoral de São Paulo por medo dos reflexos da fumaça.
Leia era aposentada e tinha três filhos e seis netos. De acordo com os filhos, a idosa não tinha nenhum problema respiratório. A filha da vítima, Galiléia Magalhães de Maria Rocha, desabafou sobre as informações passadas pelas autoridades durante o acidente.
"Vi uma entrevista que não era para descer [para o litoral de São Paulo], que quem pudesse ficar em São Paulo, era para esperar um pouco. Já as autoridades falavam, que não era para a população se desesperar, que não era pra entrar em pânico. Mas era para população entrar em pânico sim. A minha mãe respirou a fumaça e morreu", comenta Galiléia.
Em nota enviada ao G1, A Prefeitura de Jundiaí confirma que o Samu do município atendeu a paciente nesta segunda-feira (18). Com quadro instável, ela foi encaminhada para o Hospital Pitangueiras, uma instituição particular que emitiu a guia de encaminhamento. As causas da morte, de acordo com o IML, foram insuficiência respiratória, pneumonite química, inalação de fuligem e gases tóxicos.
Laudo médico aponta que idosa teve intoxicação (Foto: G1)Laudo médico aponta que idosa teve intoxicação (Foto: G1)
Fim dos trabalhos
O incêndio terminou 37 horas após o vazamento de gás ter ocorrido no Distrito de Vicente de Carvalho. As chamas acabaram depois de o Corpo de Bombeiros começar a abrir os últimos contêineres em chamas para lançar água em seu interior.
A informação foi confirmada pelo comandante do Corpo de Bombeiros, Eduardo Nocetti Holms. “Agora, nós iremos fazer a desmobilização das equipes. Os trabalhos foram concluídos", disse.
Durante os trabalhos, 22 bombeiros e 4 brigadistas tiveram complicações por conta do incêndio. Três bombeiros tiveram de ser atendidos na Santa Casa de Santos. Todos foram liberados.
Anúncio foi feito na tarde deste sábado (Foto: Guilherme Lucio da Rocha)Gabinete de crise foi encerrado neste sábado
(Foto: Guilherme Lucio da Rocha/G1)
As autoridades se reuniram neste sábado (16) para decretar o encerramento do gabinete de crise, que envolveu diversos órgãos do setor público. A conclusão do gabinete foi definida após os órgãos chegarem a um consenso de que a situação de momento é tranquila, e que os moradores da região estão seguros.
Investigação
Os órgãos que atuam no incêndio que atingiu o terminal de cargas da Localfrio continuam os trabalhos para identificar os gases que foram lançados na atmosfera por causa do acidente.
Enedir Rodrigues, engenheiro da Cetesb, explica que as investigações continuam. "Não tem como falar, neste momento, quais foram os produtos. Temos a relação dos produtos fornecida pela empresa e ainda iremos checar essa situação. É cedo para falar quais eram os produtos", disse.
Contêineres ficaram destruídos após incêndio (Foto: Corpo de Bombeiros / Divulgação)Contêineres ficaram destruídos após incêndio (Foto: Corpo de Bombeiros / Divulgação)
Fogo já foi extinto em local de vazamento de gás em Guarujá, SP (Foto: Solange Freitas / G1)Fogo já foi extinto em local de vazamento de gás em Guarujá, SP (Foto: Solange Freitas / G1)
ENTENDA O QUE ACONTECEU

- Choveu forte na região no Porto de Santos
- Alguma estrutura nos contêineres do pátio de armazenamento provavelmente cedeu
- A água da chuva entrou em contato com uma carga de um produto à base de cloro (ácido dicloro isocianúrico de sódio)
- Da reação química, surgiram focos de incêndio e a nuvem tóxica
- A fumaça causa irritações de pele e de olhos e, caso seja inalada, também nos pulmões
Combate a incêndios
Na manhã desta sexta-feira, os bombeiros informaram que entre 20 a 25 contêineres foram atingidos pelas chamas.
O trabalho foi feito por várias equipes que se dividem para resfriar o conjunto de conteinêres e também atuavam no combate individual em cada um deles. Os bombeiros utilizaram 23 viaturas, um navio e um rebocador para captar a água do mar no combate ao incêndio.
Mapa (Foto: G1)
Cidades atingidas
Várias áreas do complexo portuário precisaram ser evacuadas. A fumaça rapidamente se espalhou pela cidade de Guarujá e fotos registradas por moradores mostravam a Avenida Santos Dummont, a principal do município, coberta por uma névoa.
Por volta das 22h de quinta-feira (14), a fumaça já tinha se espalhado pelas cidades de Guarujá, Santos e São Vicente e invadido várias casas ocasionando problemas respiratórios nos moradores.
A fumaça também invadiu o Pronto Socorro de Vicente de Carvalho. Os pacientes que estavam internados foram transferidos, juntamente com as equipes e ambulâncias, para a UPA Boa Esperança, na Rua Alvaro Leão de Carmelo, onde a Secretaria de Saúde de Guarujá afirmou que os pacientes terão tratamento especializado.
Efeitos da fumaça
As pessoas atendidas apresentaram ardência nos olhos ou mal-estar ocasionado pela fumaça. Apesar do transtorno, as vítimas não correm risco de morte.
Segundo Flavio Zambrone, médico toxicologista e professor aposentado da Unicamp, "esse produto é extremamente tóxico". Ele produz irritações de pele e de olhos e, caso seja inalado, causa irritação também nos pulmões.
"É um produto à base de cloro. Ele é estável, mas tem alto teor de cloro, que se dissolve na água. Por isso, outro problema será a questão ambiental que virá depois". Segundo o professor, o produto é usado na maioria das vezes em desinfecção de água, mas em grandes quantidades passa a ser tóxico.

Vários moradores recorreram a equipamentos de proteção. "As máscaras acabaram nos postos e nas farmácias. Consegui pegar uma das últimas. Tem muita gente passando mal por causa da fumaça", afirmou a doméstica Maria Rita.
Coluna de fumaça é vista de vários locais após vazamento de gás em Guarujá (Foto: Divulgação / Polícia Militar)Coluna de fumaça é vista de vários locais após vazamento de gás (Foto: Divulgação/Polícia Militar)
O engenheiro Felipe Pavan, de 27 anos, que trabalhava na Santos Brasil no momento do acidente, conta que ninguém entendeu o que estava acontecendo quando o produto começou a vazar.
"Fomos orientados a ir ao local de resgate. O problema é que estava tudo tomado por fumaça. Depois orientaram a sairmos por outra área. Nos disseram que era amônia e nitro álcool. Nunca tinha visto uma emergência dessas", disse.
Vazamento de gás atinge Guarujá, no litoral de São Paulo (Foto: G1)Vazamento de gás atinge Guarujá, no litoral de São
Paulo (Foto: G1)
Prefeita de Guarujá fala sobre a greve dos professores (Foto: Reprodução/TV Tribuna)Prefeita de Guarujá pediu cuidado a moradores
após vazamento (Foto: Reprodução/TV Tribuna)
Quem precisar de atendimento médico por irritação nos olhos, dificuldades de respirar, tontura ou náuseas deve procurar somente as UPAs Boa Esperança, Rodoviária e Enseada.
Áreas evacuadas
Por conta do vazamento, a orientação era para que as pessoas que moram em um raio de até 100 metros próximo ao local – ou seja, pessoas que residem no quadrante das avenidas Alvorada, Adriano Dias dos Santos, Santos Dumont e Rua Santidade Papa Paulo VI, além do Sitio Conceiçãozinha – procurassem a casa de amigos ou parentes.
A evacuação foi pedida pela prefeita de Guarujá, Maria Antonieta de Brito (PMDB).
"A situação é grave. Quem está nos quarteirões próximos ao local deve deixar as casas imediatamente. Os moradores precisam ir para a casa dos vizinhos e ficar longe do local da explosão. Quem estiver em casa, a orientação é pegar panos secos e colocar nas portas e janelas. Não saiam de casa. Se o morador se sentir mal deve procurar a UPA imediatamente. Cuidado com a chuva, porque ela contém elementos químicos e pode queimar a pele", afirmou a prefeita.
A assessoria de imprensa da Dersa, empresa responsável pelas travessias entre Santos e Guarujá, afirmou que a travessia de pedestres entre Vicente de Carvalho e a Praça da República foi temporariamente suspensa no final da tarde desta quinta-feira, por conta do acidente, mas foi liberada cerca de uma hora depois.
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