PEIXES CONTAMINADOS COM MERCURIO NA BAIXADA SANTISTA, FORAM ESQUECIDOS PELA CETESB NA INFORMAÇÃO A POPULAÇÃO QUANTO A TOXIDADE DO METAL.

Lumi Zunica/R7
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Na região do estuário, foram verificadas substâncias como cobre, níquel e zinco em concentrações que indicavam alerta para a população que consome peixes

Andar sobre as tábuas nas vielas da comunidade Dique da Vila Gilda, na Baixada Santista, no litoral sul de São Paulo, exige destreza e muito cuidado para não cair nas águas poluídas do estuário. Construída sobre o manguezal, a vila é um conglomerado de palafitas, construções de tábuas erguidas sobre pilastras de madeira ancoradas no fundo do rio. Lá vivem 30 mil pessoas em contato constante com dejetos e em risco permanente de contaminação.

Formada em grande parte por imigrantes do Norte e Nordeste do país, a vila adotou o nome Gilda em memória à parteira que ajudou no nascimento dos filhos das primeiras mulheres que chegaram à região. Pescadores na origem, os moradores foram mudando de ofício junto com a degradação da área. João José da Silva, de 76 anos, é pescador aposentado, mora lá desde os 22 anos e afirma já ter visto botos no local. Durante anos garantiu o sustento com a captura de siris e caranguejos. Hoje, as armadilhas que usava na pesca são usadas para pegar ratazanas que invadem a casa.
A degradação do lugar não é recente. Em janeiro de 1983, o jornal A Tribuna, de Santos, noticiou o suicídio de uma mulher “bebendo as águas podres do rio”. Maria de Lourdes Guilherme Pereira, de 63 anos, mora há mais de 30 anos na vila. Viúva do segundo casamento e mãe de 17 filhos, dos quais 12 sobreviveram, tem 55 netos e seis bisnetos. Ao todo, 73 descendentes, dos quais 22 moram com ela em um barraco de 30 metros quadrados e com só um banheiro.
A renda se resume a um salário mínimo (R$ 465, em 2009) de aposentadoria e alguns trocados que ganha na cooperativa informal de costura, onde se produz estopas artesanais. Das 22 pessoas que moram com ela, 18 são netos com idades entre um e 12 anos e não trabalham.
Para superar a vida dura, não falta força de vontade, diz Lucinéia Marques da Silva Souza, de 50 anos. Nascida na vila, dona Néia é presidente da Sociedade Pró-Melhoramentos da Vila Gilda e organizadora da cooperativa. Mãe de seis filhos, um deles portador de síndrome de Down, ela já perdeu duas casas, queimadas em incêndios. Ela lembra que a população da comunidade cresceu atraída pela oferta de trabalho das indústrias de Cubatão na década de 70.
A reportagem do R7 circulou pelos becos suspensos no estuário, onde crianças brincam nas águas mortas junto a porcos, cavalos e casebres de madeira apodrecida. As barrigas inchadas denunciam o estado de desnutrição e os pés descalços acusam infecções e feridas. Correm pelas vielas com agilidade, desafiando o perigo de cair e se afogar ou de serem perfuradas por estacas escondidas nas águas salobras do rio Bugre.

Degradação ambiental e problemas de saúde
Os manguezais são ecossistemas costeiros formados no encontro de águas doces e salgadas onde se concentra grande quantidade de matéria orgânica em decomposição, que serve de alimento a crustáceos, peixes, aves e mamíferos. São também nos manguezais onde essas espécies se reproduzem. A ocupação ilegal, somada à contaminação química provocada por grandes indústrias na região, criam um cenário de degradação.
O último estudo feito pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) na região do Dique da Vila Gilda, publicado em 2001, mostrava recuperação em relação a 1979 e 1989. Entretanto, a análise revelava que alguns contaminantes persistiam - na região do estuário, foram verificadas substâncias como cobre níquel e zinco em concentrações que indicavam alerta para a população que consome peixes e frutos do mar.
A Cetesb afirmou por meio de nota que, a partir do seu Programa de Recuperação da Qualidade Ambiental de Cubatão, os efeitos da degradação dos ecossistemas começaram a ser revertidos a partir do tratamento de efluentes industriais.
Outro estudo da Cetesb, esse de 2008, referente à análise das praias da região onde se localiza o estuário, relata a presença de metais pesados e outros compostos altamente tóxicos no sedimento do manguezal. Entre eles, estão arsênico, chumbo, cobre, cromo, manganês, mercúrio, níquel, zinco, solventes e pesticidas em quantidades. O relatório diz ainda que, por comerem e venderem peixes, siris e caranguejos encontrados na região, “pescadores e coletores, juntamente com suas famílias, provavelmente são o grupo mais exposto aos poluentes”.
Estudos realizados em 2003 pelo professor Gilmar Wanzeller Siqueira, da Universidade Federal do Pará, também apontam a presença de metais pesados no sedimento do estuário, especialmente mercúrio. Ele expressa preocupação pelo grau de toxicidade e capacidade de circulação deste metal no litoral. O professor chama a atenção para os riscos à saúde provocados pelo mercúrio - sua presença em peixes pode aumentar em até cem mil vezes.

O consumo de alimentos ou água contaminados pelo metal, mesmo que em pequenas quantidades, não exclui o risco à saúde por se acumular ao longo dos anos. Metais pesados podem provocar câncer e doenças respiratórias e gastrointestinais. O professor Gilmar também alerta para riscos trazidos pelo contato com as águas do estuário que pode provocar doenças de pele e alergias.

O falecido Nelson Dreux taxidermista do Museu de Pesca, já alertava quanto ao perigo de comer peixes pescados na Baixada Santista , principalmente ,espadas , bagres, curvinas, tainhas ,etc.
Principalmente peixes de fundo ,lodo estes são os que absorvem maior quantidade de mercúrio.
O único peixe que não absorve mercúrio é a sardinha .

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