Como educar um ruralista?


Família de origem paranaense, que habita uma fazenda gigantemente
desmatada, onde uma casa de alvenaria bem construída é ladeada por
carros e uma antena e brilha incandescente sob o sol e nenhuma
proteção de árvores. A terra, antes coberta de vegetação variada que
os índios da região utilizavam em cada espécie sem exceção, se se
percebe seca e árida a perder de vista. O gado, magro e escasso. Todos
na família são obesos, loiros, de pele muito clara e carregam mentes
concentradas na aquisição de bens de consumo e pouco mais além disso
convive em seus temas de conversa.
O churrasco rola há horas, acompanhado de música country no último
volume e muita cerveja e bebidas mais fortes. Talvez continue
madrugada adentro e no dia seguinte, muitos acordarão de ressaca,
lembrando que devem fazer regime para emagrecer. De lado, portando
brinquedinhos, atenção recém ganha, um menino loiro, muito branco,
tímido, medroso e frágil, de uns quatro anos, se afasta dois ou três
metros da família que, sem notar a ausência ou presença dele (depois
de cumprido o ritual de presenteação com mais um brinquedo que a
empregada doméstica, moradora de um acampamento de sem terra na
região, recolherá do chão), consome bens em sua propriedade
Provavelmente uma de suas diversas propriedades nesta e outras regiões
do país, algumas das quais, depois de griladas, desmatadas e
exauridas, aguardam compra pelo governo para fins de reforma agrária,
já que não atendem mais seus propósitos de lucro rápido, sem grandes
investimentos
ou contratação de mão de obra. Mas, o trator da New Holland
estacionado também do lado da casa, bem como sacos de adubo e outros
produtos químicos de outra multinacional qualquer, estão bem guardados
no galpão construído por mão de obra barata do lado da casa.
Os índios rio abaixo não conseguem mais pescar, tomar banho ou beber
água, no rio inundado por esses produtos químicos que vão compensar a
destruição da matéria orgânica da terra pelo desmatamento e exposição
ao sol e à chuva, mas o que importa o que acontece rio abaixo, se eu
continuo tendo lucros sem pagar impostos? E se o dano for grande
demais, quem tem que dar conta dos prejuízos é o governo que já abriu
até estrada para mim, além de todos os demais serviços que eu exijo
com minha bancada no Congresso e minhas carreatas de tratores da New
Holland na Esplanada dos Ministérios, porque na minha terra, eu
torturo. mato e escondo o corpo de quem se opõe a mim, mas em
Brasília, eu exijo direitos democráticos para meus privilégios!! E sou
atendido na frente de quem espera há séculos por reforma agrária e
demarcação de terras já habitadas, que eu venho tomando com minha
família-unidade-de-consumo.
De forma análoga, a mãe do menino, pensa na cirurgia para redução de
estõmago que deve exigir ao pai do menino que pague. Pai, do qual se
separou porque o egoísmo de ambos não conseguiu ocupar o mesmo espaço.
O menino que, entre medos e ansiedades, brinca solitário com
brinquedos e neste momento se afasta alguns metros dessa pequena
sociedade doméstica de consumo.
A avó, talvez a única que enxerga o menino, alerta:
- João Vítor, não vai longe, senão os índios vão te pegar prá fazer
churrasquinho!
Assim, entre medos, consumos, egoísmos e preconceitos, se forma a
mente de um menino, que ao longo da vida terá prioridade no
atendimento de suas ansiedades fantasiosas, até mesmo de um Estado que
se diz representar o pais, que o levarão a ter constantemente um
comportamento destrutivo, ambicioso e provavelmente bastante covarde,
sem jamais sanar as necessidades galopantes que o televisor de plasma
de sei lá eu que dimensões, ocupante do principal trono da casa, além
de suas filiais na cozinha e nos quartos, propagará em sua mente vazia
de qualquer valor pelo coletivo, pelo próximo, por um futuro que não
seja individual ou centrado na sua unidade doméstica de consumo.
E a cada km quadrado de devastação que promovem, medimos, desde o
início de nossa colonização assim instruída pela ignorância, o
desenvolvimento da miséria que esse sistema alcançou, em sucata, lixo
e produtos descartáveis. Inclusive os descartáveis brinquedinhos do
menino, que a empregada, moradora do acampamento de sem terra mais
próximo, recolhe do chão, pensando em comprar algo semelhante para seu
filho com o próximo salário, nem sequer mínimo, nem sequer registrado.


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