Cúpula dos Povos leva 80 mil às ruas contra capitalismo



Mais de 80 mil homens e mulheres formaram um mar de pessoas que, organizadas, cobriram a Avenida Rio Branco no Centro do Rio de Janeiro, desde a Candelária até a Cinelândia.
A mobilização global convocada pelo Grupo de Articulação da Cúpula dos Povos e engrossada por diversos movimentos e a população do Rio de Janeiro, foi o marco do levantar das vozes dos povos de todo o mundo contra o que consideram um teatro barato encenado na conferência oficial, a Rio +20, por chefes de Estado e grandes corporações, que seriam incapazes de promover justiça social e ambiental.
Num chamado à unidade de toda a classe trabalhadora mundial, o dirigente da Via Campesina, João Pedro Stedile, convocou o grande contingente a um pacto histórico: “Propomos o pacto do Rio de Janeiro dos povos em luta, para que voltemos para nossos locais de origem e façamos todos os dias lutas contra os inimigos certos”.
Stedile alertou para o mundo que os grandes poluidores, usurpadores dos recursos naturais dos povos, que destroem a vida na Terra, tem “nome e sobrenome, é o Capitalismo, as grandes transnacionais, Monsanto, Cargil, os bancos!”.
O líder Sem Terra chamou atenção para o momento em que vive a humanidade, de capitalismo em crise, quando os capitalistas ficam mais gananciosos. “Avançam para querer se apoderar dos recursos do mundo, para se protegerem da crise e, em seguida, com a privatização da terra, água e até do ar (com os créditos de carbono), poderem retomar seus ciclos de usurpação”, explicou.
No entanto, frente a um contingente jamais visto em lutas nas ruas do país desde 1989, deixou a esperança de que novos tempos podem estar se anunciando, o qual os povos, “cansados das políticas do neoliberalismo, caminham por suas próprias pernas”.
Agroecologia
Os gritos de todas as comunidades, movimentos e povos em luta foram ouvidos ao longo da manifestação, que pautou o fim deste sistema de exploração do trabalho e dos recursos naturais até esgotá-los, a construção de novos paradigmas, como a alternativa da Agroecologia na alimentação do planeta, os direitos, culturas e demandas dos povos.
Trazendo o que chamou de calor revolucionário dos povos do Caribe, Camille Chalmers, do Haiti, foi enfático ao exigir o fim do colonialismo em países como Curaçao e Porto Rico, do neocolonialismo sofrido pelo Haiti e esbravejou: “as tropas da ONU devem sair do Haiti já!”
Os milhares de homens e mulheres, camponeses, urbanos, de todos os confins do planeta faziam coro contra a “Economia Verde”, proposta dos bancos e chefes de Estado para o planeta: o capitalismo travestido de sustentabilidade.
Iniciativas como os REDD ou mesmo a farsa dos créditos de carbono, que financeirizam a própria vida e o meio ambiente, foram rechaçadas pelas populações que ora convergem para uma plataforma mundial de soluções apresentadas e já praticadas pelos próprios povos do mundo para “esfriar o planeta” a partir da agricultura camponesa e um novo marco econômico.
Para Elizabeth Mpofu, que veio do Zimbábue na delegação da Via Campesina Internacional, “a Rio +20 deveria se chamar Rio -20! A economia Verde não é solução, pois somente serve às transnacionais, não respeita os Direitos Humanos, não respeita as gentes. Cria, por sua vez, uma agenda de destruição. Nós vamos destruir esta agenda”. A militante exemplificou como a concentração de terras é um dos problemas mais sérios do mundo, citando o caso recente do Paraguai em que, assim como outros semelhantes, viu tombar lideranças camponesas que contrariam o latifúndio devastador.
Durante o grande ato, o evento oficial da ONU foi lembrado, destacando-se o desprestígio das principais economias dos países do Norte para com os “governos puxa-sacos do Imperialismo”, que se encontram na Rio +20.
Foi questionada a cessão por parte do governo brasileiro de um aporte de US$ 10 bilhões (dez bilhões de dólares) ao fundo de resgate dos bancos europeus em crise. No total, somando as colaborações de todos os países do G-20, serão desprendidos US$ 456 bi dos cofres públicos para a crise do capitalismo.
Enquanto os diplomatas e chefes de Estado de uma centena de países se encontraram para redigir um único documento (que não prevê punições e metas para os poluidores), um sem número de organizações da sociedade promovem a Cúpula dos Povos, por Justiça Social e Ambiental e em Defesa dos Bens Comuns. Além de grandes mobilizações de rua, acontece uma série de debates e momentos de convergência nos eixos que englobam as denúncias das reais causas da crise, as soluções já praticadas pelos povos e as agendas e unidades para a luta nos próximos períodos



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