EROSÃO NA PRAIA DO ITAGUARÉ BERTIOGA-SP


FOTOS ATUAIS NOS MOSTRAM A QUANTIDADE DE TERRA,QUE SE PERDE NA COSTEIRA DEVIDO O CICLO DA MARÉ QUE ÚLTIMAMENTE INVADEM À PRAIA DO ITAGUARÉ AGRAVANDO O QUADRO DA EROSÃO EXPONDO AS RAIZES DA VEGETAÇÃO DE RESTINGA.
Estudos coordenados pela geóloga Celia Regina de Gouveia Souza demonstram que a praia de Itaguaré apresenta fortes indícios de erosão – um problema que vem crescendo no litoral paulista.
Os dados indicam que em 2001, 22,8% das praias paulistas estavam em ‘risco muito alto’ de erosão. No último levantamento, feito em 2007, esse índice subiu para 33%. Enquanto isso, as praias com baixo risco de erosão caíram de 5% em 2001, para 2,3% em 2007. “Ou seja, a situação tende a piorar”.
Para a pesquisadora, os motivos são a ocupação inadequada da orla e das planícies costeiras, que entre outros fatores, elimina a vegetação original de "restinga" e altera a rede de drenagem – além de aspectos naturais, como a atual elevação no nível do mar.
Comparação
Um estudo divulgado pelo IBGE revelou que entre dezembro de 2001 e dezembro de 2006, o nível do mar no litoral brasileiro subiu um centímetro.
Já no litoral paulista, dados coletados pelo marégrafo (instrumento que registra o fluxo e o refluxo das marés em um determinado ponto da costa) do Instituto Oceanográfico da USP, instalado em Cananéia desde 1954, demonstram que nos últimos 55anos o nível do mar na região subiu 30 centímetros.
Como referência, dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC/ONU) apontam que o nível do mar tenha subido, em média, 20 centímetros no mundo entre 1990 até 2006.
Ilha Porchat
Para Celia Regina, quanto mais o nível subir, maiores serão os casos de erosão. Ela cita como exemplo desse embate entre o mar e a ocupação humana, a praia do Gonzaguinha, em São Vicente.
“Quando fizeram a ligação com a Ilha Porchat, no final da década de 1940, criou-se um bloqueio impedindo que as areias vindas das praias do Itararé e de Santos chegassem ao Gonzaguinha, que tinha naquelas praias sua principal fonte de sedimentos. Já no começo dos anos 50 começaram a surgir os primeiros sinais de forte erosão”, afirma.
Celia explica que a Prefeitura, na época, começou a construir molhes de pedra para diminuir o impacto. Porém, essas intervenções só pioraram o problema.
“Esses molhes funcionam como uma verdadeira armadilha, aprisionando areia de um lado e aumentando a erosão no lado oposto, pois bloqueiam as correntes costeiras que transportam areias ao longo da praia. Hoje, boa parte dessa praia está desaparecendo, um processo que tende a se intensificar, principalmente com o aquecimento global e a elevação do nível do mar”, relata a pesquisadora.
O vaivem da maré
As planícies costeiras são resultado de um lento e contínuo processo de subidas e descidas do nível dos oceanos, resultado de períodos intercalados de aquecimento e resfriamento do Planeta.
Entre 1,5 milhão e 18 mil anos antes do presente, a Terra passou por quatro períodos glaciais. Neles, a temperatura global caiu, o mar recuou e as grandes massas de gelo, hoje confinadas nos pólos Sul e Norte, cresceram e avançaram rumo à linha do Equador.
Porém, nos períodos interglaciais, quando a temperatura se elevou, o gelo derreteu, recuou e o mar voltou a subir. Há cerca de 120 mil anos e também há 5,6 mil anos, por exemplo, o mar, em certos trechos de nosso litoral, chegou até o sopé da Serra do Mar, para em seguida retroceder lentamente.
Durante esses recuos, o mar foi deixando linhas de praia, que agora preenchem grande parte de nossas planícies costeiras, tornando-se as paleopraias. A cada nova subida do nível do mar, parte dessas paleopraias são erodidas.
Foi assim, depositando e erodindo sedimentos, que o nosso litoral foi ganhando as atuais feições. As praias, como as conhecemos hoje, foram tomando forma há cerca de 1,5 mil e 2 mil anos, quando o mar foi recuando até o nível próximo ao atual.

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