Diáspora na Cracolândia é filha da especulação imobiliária


Quem não vive na capital paulista e vê as notícias sobre a revoada de
almas esquecidas que ainda resistem nos bairros de Campos Elíseos e
Luz, onde a Caixa de Pandora da Cracolândia paulistana vem sendo
aberta após décadas de descaso, talvez não entenda por que os governos
do Estado e da cidade de São Paulo adotaram medida tão
impressionantemente desastrada.

A ação que espalhou pela maior cidade sul-americana uma legião de
verdadeiros mortos-vivos vai formando mini guetos na porta de cada um
dos que acharam que poderiam deixar aquele desastre social crescer sem
jamais serem afetados.

A diáspora de viciados que as forças policiais sob comando do
governador e do prefeito de São Paulo provocaram gerou o que a
imprensa vem chamando de “procissão do crack”. Como a operação se
limitou a espantar aquelas pessoas da Cracolândia, a PM está tendo que
escoltar pelas ruas da cidade grupos de até cem pessoas cada.

As regiões que estão recebendo aqueles que vão sendo tratados como
dejetos humanos, reclamam. Segundo o jornal Estado de São Paulo,
moradora da outra cidade, do outro país, do outro mundo contíguo ao
gueto da loucura reclamou de que “Antes, eles ficavam escondidos.
Agora, ninguém tem sossego” E pediu que as autoridades encontrem
“algum lugar para levá-los”.

Eis o que acontece com São Paulo. Essa é a mentalidade de uma parcela
enorme da sociedade paulista. Os favorecidos pela sorte querem
simplesmente ignorar os dramas sociais que uma governança voltada
exclusivamente para os mais ricos gerou.

Agora, essa parcela majoritária dos paulistas que mantém há quase
vinte anos no controle do Estado e da capital políticos como José
Serra, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab vão percebendo que se deixam
seus concidadãos se transformarem nos seres apavorantes que as imagens
da Cracolândia mostram, poderão ter que recebê-los a domicílio em
algum momento.

Os setores da sociedade paulistana que apoiaram que as autoridades
locais deixassem o inferno florescer naquela parte da cidade já estão
se perguntando sobre o propósito de uma ação policial que invade um
gueto como a Cracolândia somente para espantar dali pessoas com graves
problemas mentais que tendem a cometer roubos e até atos de violência
sem pensar duas vezes.

Aqueles que trataram a política paulista e paulistana como disputa de
futebol entre palmeirenses e corintianos, ao começarem a sentir o que
a irresponsabilidade social pode gerar talvez tenham interesse em
entender por que os governos estadual e municipal parecem apenas
querer tirar daquela região aqueles que ameaçam a si e a todos.

Se quem nunca quis entender agora quiser, eu conto: é a especulação
imobiliária, estúpido. O Bairro da Nova Luz é a nova negociata que
esse grupo político que seqüestrou São Paulo está preparando.

No vídeo abaixo, você conhecerá a luta de Paula Ribas (jornalista e
fundadora da Associação Amo a Luz), Simone Gatti (arquiteta e
urbanista) e Raquel Rolnik (urbanista, professora e relatora especial
da ONU para o direito à moradia) e entenderá por que as autoridades
paulista e paulistana expulsaram da Cracolândia aquelas almas
esquecidas.


http://vimeo.com/lefthandrotation/luz
www.sositaguare.blogspot.com

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